
Muita gente torce o nariz quando descobre que uma TV é “fabricada” pela Multilaser e já pensa que é furada na hora. Mas será que isso faz mesmo tanta diferença na prática? E onde entram outros fatores como tela mate, upscaling, padrão de TV digital e até aquelas películas que vêm na tela?
A ideia aqui é esclarecer esses pontos de forma simples para você não errar na escolha da próxima TV – olhando para o que realmente muda a sua experiência de uso.
Multilaser x marca da TV: quem manda de verdade no projeto?
Quando aparece em ficha técnica “fabricada pela Multilaser”, muita gente entende isso como:
“A TV é da Multilaser, então vai ser ruim.”
Só que, na prática, não é bem assim.
Em modelos como os de marcas grandes (ex.: Hisense, entre outras), o que acontece é:
- A marca “dona” da TV (Hisense, TCL, etc.)
- Define o projeto, painel, processador de imagem, sistema operacional, design, testes de qualidade, etc.
- A Multilaser / Multi
- Entra como montadora no Brasil: recebe os kits, monta, testa e coloca no mercado dentro das especificações definidas pela marca.
Ou seja:
- Quem manda na eletrônica, no painel, no sistema e no processamento de imagem é a marca estampada na TV, não a Multilaser.
- A Multilaser é, na prática, uma linha de montagem local, como várias outras empresas fazem (inclusive marcas que ninguém reclama).
Por isso, não faz sentido julgar a qualidade da TV apenas porque foi montada pela Multilaser. O que você realmente deve olhar é:
- Qual é a marca da TV (Hisense, TCL, LG, Samsung, etc.)
- Tipo de painel (LED, QLED, miniLED, OLED…)
- Sistema operacional (Google TV, Tizen, webOS…)
- Recursos de imagem, som e jogos
- Garantia e assistência técnica da marca
Tela mate (fosca) vs tela brilhante: qual é melhor?
Outra dúvida muito comum é sobre tela mate (fosca) x tela brilhante. E sim, tem diferença:
| Característica | Tela mate (fosca) | Tela brilhante |
|---|---|---|
| Reflexos | Bem menores, quase não “espelha” | Reflete muito mais o ambiente |
| Nível de preto “percebido” | Fica mais estável em ambientes claros, menos reflexos claros | Pode parecer mais “acinzentado” com muitas luzes na frente |
| “Impacto” visual | Imagem mais suave, menos “vidro” | Imagem mais chamativa, com contraste aparente mais forte |
| Uso ideal | Sala muito clara, janela em frente, luz batendo direto | Ambientes mais controlados, sala escura, cine em casa |
Resumo prático:
- Ambiente muito claro, muita janela e luz batendo na tela?
Tela mate faz uma diferença enorme, porque derruba os reflexos e deixa a imagem mais confortável de assistir. - Sala mais escura, uso mais de noite, foco em filmes com impacto visual máximo?
Tela brilhante ainda costuma entregar uma sensação de contraste mais intensa.
Mini LED, QLED e LED comum: onde a tela mate entra nessa história?
Hoje temos basicamente três “degraus” principais em TVs de LCD:
- LED comum: iluminação por zonas grandes, contraste e pretos mais limitados
- QLED (ou QLED/Keled): ainda é LED, mas com camada Quantum Dot para melhorar cor e brilho
- Mini LED: continua sendo LCD, mas com muitos LEDs muito menores, melhorando bastante o controle de luz, os pretos e o contraste
Quando você coloca tela mate em um painel LED ou QLED tradicional, acontece algo interessante:
- Ele continua tecnicamente inferior a um Mini LED em preto e contraste;
- Mas a tela mate disfarça parte das limitações, principalmente em ambiente claro, porque:
- Reduz reflexo,
- Diminui aquele “brilho lavado” nas cenas escuras,
- Ajuda a “segurar” o preto sem ficar parecendo cinza por causa das luzes.
Por isso, ao comparar:
- Uma TV Mini LED com tela brilhante
vs - Uma TV QLED/LED com tela mate,
a diferença existe, mas fica menor na prática quando você assiste em um ambiente com muita luz.
Então:
- Mini LED ainda é superior, principalmente para quem é mais exigente e gosta de ambientes mais controlados.
- Mas uma boa TV QLED com tela mate pode ser excelente custo-benefício para quem assiste muito em sala clara.
O que é upscaling e por que ele é tão importante na TV?
Upscaling é o processo em que a TV “estica” e melhora um conteúdo de resolução mais baixa (por exemplo, 720p, 1080p) para preencher a tela 4K inteira, tentando:
- Aumentar resolução,
- Suavizar serrilhados,
- Recuperar detalhes,
- Reduzir ruído e artefatos.
Na prática:
- Quase tudo que você assiste não está em 4K nativo o tempo todo:
- TV aberta,
- Muito conteúdo de streaming,
- Vídeos de YouTube em Full HD,
- Consoles mais antigos,
- TV box rodando em 1080p.
Uma TV com bom processador de imagem e IA para upscaling consegue:
- Deixar TV aberta e conteúdo Full HD com aparência bem melhor;
- “Limpar” filmes antigos;
- Deixar vídeos de streaming mais bonitos mesmo sem serem 4K.
Uma TV com upscaling ruim, por outro lado:
- Pode deixar a imagem mais lavada, borrada ou cheia de ruídos.
Upscaling com TV Box, Fire TV Stick e videogame: funciona ou é só na TV?
Essa dúvida é clássica:
“Se eu ligar um Fire TV Stick ou TV Box na HDMI, o upscaling da TV ainda funciona?”
Sim. E isso vale para:
- Fire TV Stick
- Chromecast / Google TV
- TV Box Android
- Videogames
- Notebook / PC
Tudo o que entra pela porta HDMI passa pelo processador de imagem da TV. Então:
- Se o conteúdo vem em 1080p pela HDMI, a TV precisa transformar em 4K para preencher a tela.
- Nesse processo, o upscaling da própria TV entra em ação.
O que você precisa observar é:
- O dispositivo (TV Box, console, etc.) também pode fazer o upscaling antes de mandar o sinal.
- Em muitos casos, vale testar:
- Deixar o dispositivo em 1080p e deixar o upscaling com a TV;
- Ou configurar o dispositivo para 4K e ver qual dos dois você acha melhor no olho.
Mas o ponto principal é:
Sim, se a TV tem bom upscaling, ela também melhora a imagem de um Fire TV Stick ou TV Box ligado via HDMI.
Película na tela da TV: quando pode tirar e quando você destrói a tela
Outra dúvida perigosa é sobre “película de fábrica” na tela da TV.
Em muitos casos, a pessoa acha que tem uma película para tirar, puxa… e simplesmente arranca a camada polarizadora da tela, destruindo o painel.
Regra de ouro:
- Só remova película se ela estiver claramente sinalizada como removível, normalmente:
- Com uma aba colorida (amarela, vermelha, azul) numa das pontas;
- Escrito algo como “PULL”, “REMOVE”, “Retire antes de usar”.
- Se não houver indicação clara, não mexa:
- Aquela “película” é, na verdade, parte estrutural da tela (película polarizadora).
- Se você arrancar, a TV vai ficar apenas com a luz de fundo aparecendo, sem imagem útil.
Se estiver em dúvida:
- Confira o manual,
- Veja se existem adesivos indicando remoção,
- Ou deixe como está – a chance de ser algo permanente é grande.
TVs com códigos diferentes (QN70, QN1F, etc.): são realmente outras TVs?
Muita marca faz isso: pega uma mesma base de TV e lança:
- Um código para lojas físicas,
- Outro código para lojas online.
Exemplo clássico: QN70F vs QN1F (códigos diferentes de uma mesma linha QLED da Samsung).
Na prática:
- A própria marca costuma dizer que os modelos são equivalentes:
- Mesmo painel,
- Mesmo processador,
- Mesmo sistema,
- Diferenças pequenas de acabamento, pé, público alvo ou canal de venda.
Por isso:
- Antes de surtar com a sopa de letras, o ideal é:
- Abrir a ficha técnica completa,
- Comparar tamanho, painel, taxa de atualização, HDR, conexões, sistema.
Se tudo bater, é bem provável que seja basicamente a mesma TV com “nome de guerra” diferente para varejo.
TV com tela mate e custo-benefício: QLED comum vs Mini LED
Voltando ao exemplo de TVs com tela mate, como alguns modelos QLED de 144 Hz com painel convencional (LED) comparados a TVs Mini LED, a lógica é:
- A Mini LED ainda vai ter:
- Melhor controle de luz,
- Pretos mais profundos,
- Contraste superior.
- A QLED com tela mate:
- Vai entregar ótima cor,
- Menos reflexos,
- Pretos visualmente melhores em ambiente claro,
- Mas tecnicamente ainda abaixo da Mini LED em contraste.
Então:
- Se o seu foco é peso máximo em filme, contraste forte, HDR estourando, sala mais escura, Mini LED tende a ser escolha mais acertada.
- Se você quer uma imagem muito boa para uso misto, muita luz no ambiente e custo mais baixo, uma boa QLED com tela mate pode ser excelente custo-benefício, desde que:
- O preço esteja competitivo,
- O sistema e o processador de imagem sejam bons.
ATSC 3.0 e o “novo sinal” de TV: devo escolher TV pensando nisso?
Muita gente vê em ficha técnica referências a ATSC 3.0 lá fora e já pensa:
“Se eu comprar essa TV, vou estar pronto para o novo padrão de TV aberta no Brasil?”
O que dá para dizer com segurança hoje:
- O novo padrão brasileiro de TV digital (3.0) é inspirado no ATSC 3.0, mas tem adaptações próprias.
- Algumas TVs trazem hardware compatível com o padrão de fora, mas:
- Isso não garante 100% que o novo sinal brasileiro vá funcionar automaticamente,
- Pode haver necessidade de ajustes, firmware específico, ou até hardware um pouco diferente em versões “BR”.
Como o padrão ainda está em evolução, o mais prudente é:
- Não comprar TV hoje só por causa do ATSC 3.0.
- Escolha a TV pelo conjunto:
- Painel,
- Imagem,
- Som,
- Sistema,
- Conectividade,
- Preço.
- Se no futuro a TV ainda receber suporte ao novo padrão, ótimo; se não, sempre haverá a opção de conversor externo, como já aconteceu na transição do analógico para o digital.
TV montada pela Multilaser é furada?
Voltando à pergunta que puxa todo o assunto:
“TV fabricada pela Multilaser é furada?”
O que realmente importa é:
- Quem projetou a TV (marca principal, ex.: Hisense, TCL etc.)
- Qual é o painel (LED, QLED, Mini LED, OLED…)
- Processador de imagem e recursos (HDR, upscaling, taxa de atualização)
- Sistema operacional (Google TV, Tizen, webOS…)
- Qualidade de som
- Histórico da linha e reviews de uso real
- Garantia e assistência da marca
A Multilaser, nesse contexto, está atuando como montadora, não como “cérebro” da TV. O projeto, eletrônica, painel e processamento são da marca “dona” do produto.
Então, em vez de descartar automaticamente um modelo só porque passa pela Multilaser:
- Foque em avaliar a TV como um todo,
- Veja testes, medições e reviews independentes,
- Compare com alternativas da mesma faixa de preço.
Como não cair em furada ao escolher sua próxima TV
Para fechar, um checklist rápido que ajuda bem:
- Defina o uso principal
- Filmes/séries em ambiente escuro
- Sala clara / TV do dia a dia
- Games competitivos / consoles novos
- Escolha o painel adequado
- LED bom para uso geral
- QLED para cores mais fortes
- Mini LED para contraste e HDR melhores
- Tela mate se a sala for muito clara
- Veja o sistema
- Google TV, Tizen, webOS, Roku – escolha o que te atende melhor em apps
- Confira as conexões
- Quantos HDMI? Quais têm 120/144 Hz? Tem AV/P2 se você precisa de aparelho antigo?
- Preste atenção no som
- Se vai usar só o som da TV, prefira modelos com mais potência e, se possível, subwoofer integrado
- Considere o upscaling
- Principalmente se você vê muita TV aberta, YouTube e streaming em Full HD
- Pesquise o modelo específico
- Busque reviews sérios do modelo exato (código completo), e não só da marca.
Seguindo esses pontos, você escolhe uma TV baseado em tecnologia, uso real e custo-benefício, e não só no nome de quem montou o produto – e aí, sim, evita cair em furada de verdade.

