Greve dos Correios causa caos logístico e rastreios confusos em encomendas internacionais

Nos últimos dias, milhares de consumidores brasileiros começaram a perceber um comportamento totalmente fora do padrão nas encomendas internacionais. Pacotes que deveriam seguir um fluxo lógico passaram a “viajar” sem explicação, com rastreios inconsistentes, mudanças repentinas de rota e atrasos inesperados. Esse cenário passou de estranho para preocupante após a confirmação da greve dos trabalhadores dos Correios em diversos estados.

A combinação de alto volume de compras, gargalos operacionais e paralisação parcial dos funcionários criou um verdadeiro caos logístico, especialmente para quem comprou produtos importados recentemente.

Aumento no volume de compras e sobrecarga do sistema postal

Datas promocionais como 11/11 e Black Friday impulsionam um volume gigantesco de importações. Milhares de pacotes entram no Brasil praticamente ao mesmo tempo, exigindo análise, triagem e distribuição rápida para evitar atrasos.

Com o crescimento das compras internacionais nos últimos anos, os centros logísticos passaram a operar constantemente no limite. Em períodos de pico, qualquer falha de planejamento ou falta de pessoal pode gerar um efeito cascata, impactando diretamente o prazo e a confiabilidade das entregas.

Valinhos como principal porta de entrada das encomendas internacionais

Um dos pontos centrais dessa confusão logística é o protagonismo de Valinhos, em São Paulo, como principal centro de entrada das remessas internacionais. Grande parte das encomendas chega ao Brasil via transporte aéreo e segue diretamente para esse polo, onde ocorre a análise aduaneira.

O problema surge quando o volume de pacotes supera a capacidade operacional do local. Sem estrutura suficiente para processar tudo com agilidade, os Correios passaram a redistribuir cargas para outros centros, o que explica parte dos desvios de rota observados nos rastreios.

Pacotes indo para Curitiba sem lógica aparente

Um dos comportamentos mais relatados pelos consumidores é o envio de encomendas de Valinhos para Curitiba, mesmo quando o destino final está em estados mais próximos, como Minas Gerais ou São Paulo capital.

Esse redirecionamento não faz parte do fluxo padrão. Normalmente, após a liberação aduaneira, o pacote segue para um centro logístico estadual ou diretamente para a cidade de destino. No entanto, diante da sobrecarga em Valinhos, Curitiba passou a ser utilizada como uma espécie de válvula de escape.

Embora Curitiba seja um centro antigo, robusto e preparado para grandes volumes, esse deslocamento extra aumenta o tempo de entrega e os custos operacionais, além de gerar rastreios confusos para o consumidor.

Passagem inesperada por Cajamar e outros centros logísticos

Além de Curitiba, alguns pacotes passaram por Cajamar, outro importante polo logístico de São Paulo. Esse centro costuma ser mais focado na distribuição nacional, não em encomendas internacionais.

O aparecimento repentino de Cajamar no trajeto de pacotes importados indica uma tentativa emergencial de redistribuição do fluxo, usando qualquer estrutura disponível para evitar o colapso completo do sistema.

Rastreios incoerentes e falhas de atualização

Outro problema recorrente são as inconsistências no rastreamento. Em alguns casos, o sistema registra eventos fora de ordem, como análise concluída antes da postagem no país de origem ou pacotes “voltando” para locais onde já haviam passado.

Essas falhas geralmente indicam problemas de integração entre sistemas, atraso no registro de eventos ou erros operacionais causados pela sobrecarga. Para o consumidor, o resultado é insegurança e dificuldade para entender onde a encomenda realmente está.

Tentativas de entrega suspeitas e informações contraditórias

Além dos desvios de rota, há relatos de tentativas de entrega registradas sem que o carteiro realmente tenha comparecido ao endereço. Em alguns casos, o sistema indica duas tentativas no mesmo dia, algo incomum na prática.

Essas inconsistências reforçam o cenário de desorganização interna, onde processos automatizados acabam registrando informações que não refletem exatamente o que ocorreu no mundo real.

Greve dos Correios agrava ainda mais a situação

Como se os problemas logísticos já não fossem suficientes, a greve dos trabalhadores dos Correios elevou o nível de preocupação. A paralisação foi aprovada em estados estratégicos, incluindo São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Ceará e Paraíba.

A categoria reivindica reajuste salarial, manutenção de direitos históricos e melhores condições de trabalho. Mesmo com parte do efetivo ainda em atividade, a greve afeta setores operacionais importantes, justamente em um momento de pico de encomendas.

Estados com adesão à greve dos Correios

A adesão ocorre de forma parcial, mas suficiente para gerar atrasos, redistribuições emergenciais e gargalos adicionais na logística.

Impactos diretos para quem compra do exterior

Para o consumidor final, os efeitos são claros:

• Atrasos maiores do que o normal
• Rastreios confusos e incoerentes
• Pacotes redirecionados sem aviso prévio
• Previsões de entrega pouco confiáveis

Mesmo encomendas que normalmente seriam entregues em cerca de 10 a 12 dias passaram a levar muito mais tempo, especialmente aquelas que ficaram “presas” no trajeto entre Valinhos e Curitiba.

Por que os Correios não estavam preparados

O aumento das importações não é novidade. O volume cresce ano após ano, impulsionado por marketplaces internacionais, programas de tributação simplificada e preços mais atrativos.

Ainda assim, a falta de planejamento adequado, investimentos insuficientes em estrutura e pessoal, além de um cenário financeiro delicado da estatal, contribuíram para que o sistema entrasse em colapso justamente no período mais crítico do ano.

O que esperar nos próximos dias

A tendência, enquanto a greve continuar e o volume de encomendas seguir alto, é de manutenção dos atrasos e dos rastreios inconsistentes. Mesmo com medidas contingenciais, o sistema já opera no limite, e qualquer nova paralisação pode ampliar ainda mais os impactos.

Consumidores devem acompanhar o rastreio com cautela, evitar ansiedade excessiva com atualizações estranhas e considerar prazos mais longos para compras internacionais neste período.