
Encontrar um “notebook” por cerca de R$ 480 na Shopee desperta dois sentimentos imediatos: empolgação pelo preço e desconfiança pelo que vem junto. Em muitos anúncios, a promessa é simples: um computador barato, pronto para estudar, navegar e usar aplicativos básicos. Mas será que esse tipo de máquina entrega o mínimo necessário ou é só dor de cabeça garantida?
Um dos modelos que mais aparecem nesse tipo de oferta é o Positivo Chromebook CH190, vendido como remanufaturado e muitas vezes com descrição pouco clara sobre limitações de uso. Neste artigo, você vai entender exatamente o que esse aparelho é, o que ele faz, onde ele falha e se faz algum sentido investir o seu dinheiro em um “notebook de 480 reais da Shopee”.
Que notebook é esse de R$ 480 que aparece na Shopee?
Por trás de muitos anúncios genéricos de “notebook barato para estudar” está um modelo bem específico: o Positivo Chromebook CH190, lançado em 5 de abril de 2017.
Ele não é um notebook falso, nem um produto inventado. Trata-se de um Chromebook antigo, remanufaturado, que em algum momento foi usado, descartado, recolhido por revendedores, revisado de forma básica e recolocado à venda por um preço muito baixo.
Em vez de Windows, ele usa o Chrome OS, sistema do Google pensado para ser leve, rodar bem em hardware simples e focar em:
- Navegação pela web.
- Uso de serviços na nuvem.
- Integração com conta Google.
- Instalação de alguns aplicativos Android.
No papel, parece perfeito para um computador baratinho: sistema leve, integração com o ecossistema Google e foco em tarefas simples. O problema é que, neste caso, estamos falando de um hardware fraco já na época do lançamento e ainda mais limitado hoje, somado ao fato de que o suporte oficial de software acabou.
Especificações técnicas do Positivo Chromebook CH190
Para entender melhor o que você está comprando ao pegar esse notebook baratíssimo na Shopee, vale olhar com calma o conjunto de hardware.
| Item | Especificação |
|---|---|
| Modelo | Positivo Chromebook CH190 |
| Ano de lançamento | 2017 |
| Sistema operacional | Chrome OS (versão limitada, sem atualizações novas) |
| Processador | ARM Cortex-A17, 4 núcleos, 32 bits, até 1,8 GHz |
| Memória RAM | 2 GB DDR3 |
| Armazenamento interno | 16 GB (com cerca de 10 GB úteis, o resto ocupado pelo sistema) |
| Tela | 11,6″ TFT, resolução HD, ângulos de visão ruins |
| Construção | Corpo em plástico simples, teclado básico |
| Conectividade sem fio | Wi-Fi com suporte a 5 GHz, Bluetooth 4.0 |
| Portas | 2x USB-A, 1x HDMI, 1x fone de ouvido, 1x slot microSD |
| Bateria | Em muitos casos remanufaturados, removida (funciona só na tomada) |
| Estado geral | Produto remanufaturado, com variação na condição física e interna |
É um conjunto que já era modesto em 2017 e hoje está claramente ultrapassado.
Pontos positivos: o que surpreende (nivelando por baixo)
Mesmo sendo um equipamento muito limitado, existem alguns pontos que ajudam a entender por que tanta gente acaba comprando esse modelo em oferta.
1. Não é um produto falso
Ele não é uma “caixa vazia”, nem um notebook inventado com marca genérica. É um modelo real, que já foi vendido oficialmente no passado e agora aparece como remanufaturado. Isso não quer dizer que seja uma boa compra, mas ao menos não é um golpe clássico de produto inexistente.
2. Design simples, mas não horrível
A construção é toda em plástico, o teclado é barulhinho e o toque passa sensação de produto barato. Ainda assim:
- O visual não é dos piores.
- Fica na mesma linha de muitos notebooks de entrada vendidos hoje, que também economizam em acabamento.
3. Tela em nível parecido com notebooks baratos atuais
A tela é 11,6″ HD com painel TFT, ângulos de visão ruins e qualidade básica. Mas, curiosamente, ela não está tão distante de vários modelos de entrada com Windows e 4 GB de RAM que ainda usam painel HD simples, vendidos perto de R$ 2.000.
4. Conexões funcionando e Wi-Fi 5 GHz
Outro ponto que surpreende é ele trazer:
- Wi-Fi com suporte a 5 GHz, algo que muita gente não espera em um modelo tão velho e barato.
- Bluetooth 4.0 em funcionamento.
- Portas USB e HDMI em estado aceitável.
Chega a ser quase um “parabéns pelo mínimo”, mas considerando a quantidade de produtos bizarros no mercado de remanufaturados, ter um aparelho que liga, conecta à internet, reconhece pendrive e ainda espelha imagem em um monitor externo já é um avanço.
5. Chrome OS realmente ajuda o hardware a sobreviver
Mesmo com:
- Processador antigo e fraco.
- 2 GB de RAM.
- Só 16 GB de armazenamento.
O Chrome OS ainda consegue rodar:
- Navegação em uma ou duas abas.
- YouTube em nível básico.
- Alguns aplicativos Android simples, como Spotify ou um app de sistema.
É impressionante o quanto o sistema do Google consegue extrair de um hardware tão limitado, algo impensável em um notebook com Windows nas mesmas configurações.
Onde tudo desanda: idade, travamentos e fim do suporte
Se o texto parasse nos pontos positivos, até pareceria que estamos diante de um achado. Mas é aqui que entra a parte crítica: esse Chromebook é velho demais para o uso atual, e isso aparece em vários pontos.
Sistema preso na última atualização
Assim que o aparelho é ligado, surge o aviso:
a versão presente é a última disponível para esse modelo. Em outras palavras:
- Ele não recebe mais atualizações de segurança.
- Você fica exposto a possíveis falhas que não serão corrigidas.
- Novas funções do Chrome OS não chegam a esse dispositivo.
Web Store praticamente inutilizável
Ao tentar instalar aplicativos pela web store do Chrome:
- Diversos apps pedem atualização do navegador.
- Como o sistema não pode ser atualizado, muitos simplesmente não instalam.
Isso limita bastante as possibilidades de uso.
Play Store limitada e lenta
A Play Store até funciona, mas:
- Alguns apps Android ainda instalam (Spotify, AIDA64, Instagram).
- Outros simplesmente não são compatíveis com a versão do sistema.
- Instalações demoram muito, mais por falta de desempenho do que por internet lenta.
- Em alguns casos, a instalação falha e precisa ser reiniciada.
Desempenho extremamente restrito
Com 2 GB de RAM e processador ARM Cortex-A17 de 2014, o resultado é:
- Dá para abrir uma ou duas abas no navegador, mas nada de exagero.
- Tentar fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo faz o sistema engasgar.
- Em alguns cenários, janelas simplesmente fecham e você precisa recomeçar o que estava fazendo.
Na prática, o uso é sempre no modo “uma tarefa de cada vez”, sem margem para multitarefa.
Problemas de remanufaturados: bateria removida e condição incerta
Além das limitações técnicas, ainda existe o fator “produto remanufaturado de marketplace”, que traz riscos extras.
Bateria removida
No caso analisado, a bateria foi totalmente retirada. Isso significa que:
- O notebook só funciona ligado na tomada.
- Você perde completamente a mobilidade, que é justamente um dos motivos de comprar um notebook.
Em alguns anúncios, o vendedor até avisa isso na descrição. Em outros, a informação é vaga ou nem aparece com clareza.
Condição física aleatória
Produtos remanufaturados podem chegar com:
- Riscos profundos.
- Marcas de uso intenso.
- Amassados de quedas anteriores.
- Teclado ou touchpad com desgaste.
É comum esse tipo de variação, justamente porque são aparelhos recolhidos em grande volume, “reparados” de forma básica e colocados à venda sem um padrão confiável de qualidade.
O que ainda dá para fazer com um notebook desses?
Na prática, o que um notebook de R$ 480 na Shopee como o Positivo Chromebook CH190 é capaz de fazer hoje?
Tarefas que ele até consegue cumprir
- Navegar em poucas abas ao mesmo tempo.
- Assistir a vídeos mais leves no YouTube em resolução baixa.
- Usar algum app Android simples da Play Store, se for compatível.
- Acessar e-mails, documentos online bem leves, alguma planilha pequena.
- Servir como “quebra-galho” em uso extremamente básico, sempre conectado na tomada.
Tarefas que não fazem sentido nele
- Estudar de forma confortável com muitas abas abertas, PDF pesado e videoaula ao mesmo tempo.
- Trabalhar com planilhas grandes, documentos pesados ou múltiplas ferramentas.
- Usar apps mais recentes ou pesados da Play Store.
- Jogar, editar vídeo ou fazer qualquer tarefa um pouco mais exigente.
- Ter uma experiência fluida, sem travamentos constantes.
Em resumo: ele funciona, mas no limite do aceitável, e com uma lista de restrições enorme.
Notebook de R$ 480 da Shopee é golpe?
Quando a pergunta é “é golpe ou é bom?”, a resposta precisa ser dividida em duas partes.
Não é golpe no sentido clássico
Você realmente recebe um aparelho físico, que liga, acessa a internet, tem Chrome OS e, de certa forma, funciona. Não é uma caixa vazia, nem um item falso de marca inexistente.
Mas também não é um notebook “bom” para a maioria das pessoas
Para uso principal, estudo sério, trabalho remoto ou rotina minimamente intensa, ele é um péssimo negócio. A idade avançada, o fim do suporte do sistema, as limitações de hardware e o fato de muitos virem sem bateria tornam a experiência muito frustrante.
Faz sentido comprar um Chromebook remanufaturado assim?
Em geral, apostar em um Chromebook remanufaturado tão antigo e barato não compensa. Em vez disso, fazem muito mais sentido opções como:
- Comprar um notebook ou Chromebook novo, mesmo que um pouco mais caro, mas com suporte ativo e hardware mais atual.
- Pegar um notebook antigo que você já tenha em casa e instalar o Chrome OS Flex, que foi criado exatamente para reviver máquinas velhas com um sistema leve e atualizado.
O barato, nesse caso, costuma sair caro em:
- Tempo perdido com travamentos e falhas.
- Frustração por não conseguir fazer o básico.
- Risco de parar de funcionar de vez em pouco tempo.
Como encontrar notebooks baratos que realmente valem a pena
Em vez de arriscar dinheiro em um notebook de R$ 480 com quase 9 anos de idade, vale muito mais acompanhar:
- Promoções de notebooks de entrada e intermediários com garantia e suporte.
- Ofertas de Chromebooks novos com processadores atuais e pelo menos 4 GB de RAM.

